quarta-feira, 1 de julho de 2015

A Designer Irma Boom, diz que não acredita em E-Book.

Convida da Flip, ela diz que livros vivem fase de ‘renascimento’ como objeto

Trabalhando no galpão que fica no primeiro andar de sua casa, numa área nobre de Amsterdã, a designer holandesa Irma Boom, de 55 anos, parece fazer parte das páginas de um dos livros desenhados por ela: veste roupa muito preta num cenário muito branco. Há todas as qualidades de papel em tons claros espalhados pelo estúdio iluminado, o que dá algum volume a cena, mas o ponto que concentra a atenção do ambiente é justamente o mais escuro – a figura de Irma, com seu cabelo muito negro, as mangas compridas, a saia de comprimento austero.
Umas das convidadas da Flip deste ano, onde vai ministrar uma oficina para profissionais da área previamente selecionados, a designer de livros é uma referência no mercado editorial internacional: ganhadora de diversos prêmios, entre eles o Guttemberg Prize, uma espécie de Oscar editorial, tem 40 dos seus livros integrando a MoMA, em Nova York. A procura por sua oficina em Paraty foi tão grande que dois workshops extras estão sendo as pressas em São Paulo, pós-Flip. A dias da viagem, ela parece curiosa pela audiência, quase preocupada.
  – É um evento literário, e não falo do conteúdo dos meus livros. Basicamente, sobre a forma. Não sei se esperam que eu vá ensine alguma coisa, eu vou apenas contar como faço meu trabalho, e seria interessante ouvir como os designer brasileiros fazem o seu. Vou propor que façamos um livro juntos, talvez um pequeno volume, de oito páginas – diz Irma, que nunca esteve na América do Sule montou uma listas de obras arquitetônicas que faz questão de conhecer, como as de Oscar Niemeyer. – O importante em cada trabalho é a atitude que tem frente a ele: uma maneira específica de se comportar em relação ao trabalho. As respostas às questões do projeto estão dentro do próprio livro, mas só a atitude que você tem diante dele vai leva-lo a elas.
Seu portefólio tem cerca de três centenas de livros inteiramente concebidos por ela, e o que há de especial em cada um dele é o casamento perfeito ente forma e conteúdo. Não são necessariamente, livros de literatura: há muitos catálogos de museu, guias de arte, compilações de eventos, enciclopédias de temas que vão de feminismo a ecologia. Todo detalhe passa por um conceito: o tipo de papel, o corte, tipografia, cores, a maneira como o livro vai ser lido, por quem, em qual momento, de que maneira pode ter seu mecanismo explorado. A designer é uma co-autora dos livros que faz, apesar de recusar veementemente o título de artista:
  – Não sou artista, sou uma designer. Trabalho a partir de encomendas, meus livros são feito em escala industrial. Faco questão que tenham preços acessíveis. Arte é outra coisa.
Enquanto fala, mostra exemplo s a partir de um pequeno livro vermelho, do tamanho de uma caixa de fósforos, onde estão reunidas todas capas dos livros que já fez, em miniatura. Os projetos que apresenta aos clientes são feitos em maquetes como na arquitetura.
   – Não uso PDFs, não acredito em e-books. E-book não é livro. Lido com livros reais. Meu trabalho é reinventar o objeto que ele seja uma nova forma de contar uma história. Um livro, o que faz? Espalha informações. Meu trabalho é mostrar o que você pode fazer a partir da ideia de “virar páginas”. Vou dar um exemplo: num livro, no qual estou trabalhando, a tipografia fará parte do romance,  a tipografia será um personagem . é um desafio criar um livro desses, me encanta. Eu realmente acredito que os livros vivem uma fase de renascimento – afirma.
O entusiasmo de Irma em relação ao objeto, no entanto, não é mesmo em relação às instituições que os protegem e divulgam, como bibliotecas e livrarias. Irma diz comprar pouquíssimos livros, e conta que sempre tira um de casa quando compra um novo.

  – Numa biblioteca, os livros continuam não chamando atenção se disputados com o computador. Acredito mais em pequenas coleções de livros especializados, disponíveis em lugares estratégicos – comenta. – Sempre que vou a uma livraria me deprimo. É tão difícil fazer livros; se alguém se propõe fazer um, que faça bem feito, e não de qualquer jeito, como a maioria parece ter sido feita.

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