segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Livro: Maomé e Carlos Magno - O Impacto do Islã Sobre a Civilização Européia - Henri Pirenne.

Desde a Antiguidade, um processo civilizatório foi construído em comum pelo trabalho, simultâneo ou sucessivo, de egípcios, sírios, fenícios, gregos e romanos, cuja existência gravitava em torno do Mediterrâneo. Vida econômica e social, religiões, costumes e ideias se misturavam.
Tal unidade sobreviveu à queda de Roma no início do século V. Mesmo depois da invasão dos germanos, essa civilização continuou culturalmente romana e geograficamente mediterrânica. A ruptura só ocorreu no final do século VII, com a súbita e inesperada ascensão do Islã, que a partir de Maomé (571-632), em pouco mais de cinquenta anos, arrebatou sucessivamente o Império Persa (637-644), a Síria (634-636), o Egito (610-642), a África (698), a Espanha (711), a Córsega, a Sardenha e a Calábria.
Só então deixa de existir a milenar comunidade mediterrânica que sobrevivera ao Império Romano. O Mediterrâneo, Mare Nostrum, que ligava a Europa Ocidental ao seu entorno, converte-se em uma barreira que a isola. O culto do profeta toma o lugar da fé cristã. O direito muçulmano substitui o direito romano. A língua árabe se sobrepõe às línguas grega e latina. Duas civilizações passam a conviver, em conflito.
A desaparição da navegação mediterrânica carrega consigo o comércio e a indústria. As cidades, cuja atividade ela sustentava, se despovoam e caem em ruínas. A economia urbana é substituída por uma economia rural sem mercados. A Europa dobra-se sobre si mesma, e o seu centro de gravidade se desloca do sul para o norte. As tribos gaulesas e germânicas, até então confinadas à barbárie, ocupam doravante, no Império Carolíngio, uma posição central, enquanto Roma torna-se uma fronteira. Começa aí a Idade Média, gigantesca transformação na civilização europeia, matriz do Ocidente moderno.
'Sem Maomé, Carlos Magno seria inconcebível' diz Henri Pirenne neste livro notável.

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